Autor: Rodrigo Cantos Savelli Gomes
Universidade Federal de Santa Catarina
Artigo escrito para o II Seminário Internacional Desfazendo Gênero/UFBA
Aérea: Antropologia Social
Resumo: Pesquisa em Antropologia Social da UFSC em fase inicial situada numa inter-relação entre Antropologia, Etnomusicologia, História e Estudos de Gênero. Trata-se de uma investigação sobre Chiquinha Gonzaga e sua produção artística que tem como objetivo compreender a construção social das relações de gênero em torno das práticas musicais na cidade do Rio de Janeiro no período da Bélle Époque e os efeitos desta construção social na historiografia musical brasileira. Pretende-se, como isso, verificar as implicações de indivíduos extraordinários, desviantes e estigmatizados de modo a analisar a conjuntura de uma sociedade que acolhe de forma contraditória artistas que, como Chiquinha Gonzaga, experimentaram os limites estabelecidos pelos padrões sociais. Levantamentos iniciais apontam que no campo político e no imaginário social Chiquinha é revivida atualmente com uma heroína transgressora, mas no campo dos estudos musicais esta imagem é substituída por uma artista ordinária. No território altamente masculinizado que é o campo dos estudos musicais onde, por sinal, os estudos de gênero possuem baixíssima representatividade, há atualmente uma subvalorização da arte de Chiquinha Gonzaga.Tal leitura contemporânea de Chiquinha Gonzaga é inversamente proporcional à leitura feita no contexto de sua época, quando ela era aclamada como artista notável, mas indivíduo socialmente desprezível. Partindo do mesmo paradigma de Strathern (2013), pretende-se compreender porquê em determinados momentos ela foi deixada de lado e porquê, passado tantos anos e reviravoltas, volta-se a relê-la sob outras intenções. Não há apenas um contexto, mas vários, e o interesse aqui está no jogo entre eles.