O acervo Chiquinha Gonzaga em narrativas autobiográficas

Autor: Rodrigo Cantos Savalli Gomes: 
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis-SC

OPUS v. 26 n. 1 jan./abr. 2020 DOI 10.20504/opus2020a2611

RESUMO
Nesta investigação analiso os documentos que constam no acervo da maestrina e compositora Chiquinha Gonzaga, hoje em posse do Instituto Moreira
Salles do Rio de Janeiro. Trata-se de um material que começou a ser colecionado pelas mãos da própria artista, pelo qual foram conservados inúmeros fragmentos de sua própria vida, suas memórias, sua trajetória pessoal e profissional, de modo que, parte deste material, analiso como “representações de si”, ou seja, como possibilidade de narrativas autobiográficas. Com base nas noções de “cultura de si” e “formações discursivas”, de Foucault (2015), “biografemas”, de Barthes (1977), e “pacto autobiográfico”, de Lejeune (2014), recorro à Análise do Discurso, partindo do fundamento de que os conhecimentos que compõem o acervo constituem um sistema de enunciados, verdades parciais, interpretações históricas e culturalmente constituídas; portanto, mais do que descrevê-lo e interpretá-lo, interessa-me compreender os contextos – social e simbólico – de como o acervo foi constituído,
modificado e produzido. A análise do material problematizou os mecanismos pelos quais os discursos e narrativas sobre a vida e obra de Chiquinha Gonzaga atravessaram o tempo, assim como as implicações do arquivamento da própria vida. Além disso, a análise revela o acervo como uma fonte privilegiada para compreensão do universo social feminino, uma alternativa diante da ausência de informações sobre artistas mulheres na historiografia musical brasileira, na qual, muitas vezes, a presença feminina é ignorada e desvalorizada.
Palavras-chave: Autobiografia. Análise do Discurso. Relações de gênero. Música brasileira. Historiografia da música.

The Chiquinha Gonzaga Collection as an Autobiographical Narrative
Abstract: In this investigation, I analyze the documents comprising the collection of conductor and composer Chiquinha Gonzaga, now in possession of the Moreira Salles Institute in Rio de Janeiro. This collection was started by the musician herself preserving countless fragments of her life, memories, and personal and professional trajectory. That said, I consider part of this material “representations of the self”, i.e., a potential for autobiographical narrative. Based on the notions of “culture of the self” and “discursive formations” by Foucault (2015), “biographem” by Barthes (1977), and “autobiographical pact” by Lejeune (2014), I employ Discourse Analysis based on the grounds that the information contained in the collection is a system of statements, partial truths, and historically and culturally constituted interpretations, therefore, more than describing and interpreting the material, I am interested in understanding how its contexts − social and symbolic − were conceived, modified and produced. The analysis questioned the mechanisms by which the discourse and narrative on Gonzaga’s life and work have endured over time, as well as the implications of archiving life itself. Moreover, the study reveals that the collection is a privileged source and good alternative for understanding the social universe of women, given the lack of information on female artists − often ignored and undervalued − in Brazilian music historiography. Keyword: Autobiography. Discourse analysis. Gender relations. Brazilian music. Music historiography.

Acessar artigo completo

Deixe um comentário