O texto a seguir foi extraído da matéria intitulada “O último e mais empolgante espetáculo do Teatro São José”, publicado no Diário de Notícias em 13 de setembro de 1931, um dia após o incêndio que o destruiu.
O Teatro São José, antes denominado de Príncipe Imperial, foi palco da estreia de Chiquinha Gonzaga no teatro ao musicar a opereta A Corte na Roça.
Os quatro grandes períodos do Teatro São José
A história do Teatro São Pedro é das mais brilhantes e sugestivas.
Foi no seu início Príncipe Imperial; depois denominou-se Variedades. Chamou-se mais tarde, mais ou menos em 1900, Moulin Rouge e em 1901 foi batizado com o nome de São José, que conservou até a data de ontem.
Como Príncipe Imperial a querida casa de espetáculos teve o seu período áureo. A arte de representar entre nós era um fato. Estávamos na época em que a opereta francesa predominava. E os nossos palcos a representavam em português. No seu palco Rosa Marys estreou na magia “As três rosas de cristal”.
Quando Souza Bastos, fundou a primeira companhia para o Príncipe imperial, Hermínia Adelaide foi lançada como “estrela” desta companhia.
Esta mesma empresa fez debutar ali Esther de Carvalho, a desequilibrada Esther, no “Sino do Eremitério”.
Christina Massage, em 1882, nesta querida casa de espetáculos se fez aplaudir em “Arquiduquesa”. Quando ismênia dos Santos teve o grande período de triunfos e louros, no já então Variedades, foi que se estreou Olympia Amoedo no príncipe “Estrela D’Alva”, do “Diabo coxo”, e Rosa Viollto, ali representou ao lado de Guilherme da Silveira, aliás foi esse grande ator que o formou e deu nele a “Mamazelle Nitouche” e a celeberrima “Galinha dos ovos de ouro”.
Atingido o ano de 1900 o Variedades passou a se chamar Moulin Rouge, já então nas mãos da empresa Paschoal Segreto, que explorou o gênero musical com real sucesso, mas que pouco durou, pois em breve passou a chamar-se São José, sendo ocupado por várias companhias estrangeiras logo no início de sua nova fase. Em 1911 fundou-se a companhia de espetáculos por sessões.
Era uma novidade. Cinira Polonia, à frente da “Trupe” triunfa com a “Mulher soldado”, uma adaptação dos “28 dias de Clarinha”, que consegue se manter por largo tempo no cartaz. E durante um grande espaço de tempo o São José é o teatro popular do Rio por excelência. Foi nesta época que o “Forrobodó”, de Carlos Bittencourt e Luiz Peixoto, com música de Francisca Gonzaga, consegue mais de 400 representações.
Alfredo Silva é cognominado o rei do riso e o seu prestígio cômico confunde-se com a simpatia que o populacho dedica ao São José.
Com a morte de Paschoal Segreto às sessões que eram três por noite, passam em breve a duas e o São José oferece um belo período do gênero revista. Impondo-se pelo brilho das montagens que apresentava. Foi ali que surgiu então Aracy Côrtes, estrela de revista, tendo antes se apresentado, em “São Paulo Futuro”, Luiza Satanella, depois roubada ao palco brasileiro pelos empresários de Lisboa.
É desta data ainda os triunfos de Otília Amorim e outras figuras do nosso teatro popular
Terminada a temporada das revistas o São José passa a cinema. Dura pouco como tal. O teatro é radicalmente remodelado em 1929. Vem então um período brilhante para a querida casa de diversões. É quando Leopoldo Fróes se instala ali com uma magnífica companhia de comédias e nos dá uma série de peças, em geral francesas, que alcançam êxito garantido. Segue-se, então, a transformação da conhecida casa de espetáculos em cine-teatro, primeiro com a variedades, a seguir com fitas e comédias, novamente com peças musicadas e por fim com sainetes. Já então ele sofrera, em 1930, uma nova reforma.

E assim se incendeia. É doloroso. Essa fogueira que a cidade contemplou com espanto e dor, determina o desaparecimento do teatro que era o refúgio dos escritores brasileiros que se dedicam a comédia ligeira, ao sainete, à farsa. Todas as semanas a empresa pagava a SBAT quase um conto de réis de direitos pelas peças e seus sócios ali representadas.
O desaparecimento do São Pedro tira aos nossos autores, que sem pretensão cultivam o teatro de dicção, a única casa de espetáculos que acolhia com simpatia genuína peça brasileira.
Fonte: Hemeroteca Digital / Biblioteca Nacional Brasileira.