Exclusiva com Wandrei Braga, criador do site ChiquinhaGonzaga.com

Wandrei Braga é pianista, designer e responsável pelo site ChiquinhaGonzaga.com e redes sociais dedicadas a Chiquinha. 

Wandrei Braga, pianista

1) Por que Chiquinha Gonzaga?

Corria o ano de 1999, eu morava em Guaraci, uma cidade pequena no interior de São Paulo. Na época já tinha iniciado meus estudos em música com meu tio (no início da década de 1990) e depois no Conservatório Villa-Lobos, em Olímpia, uma cidade há 29 km de distância de Guaraci. Ao mesmo tempo cursava faculdade de ciências da computação em São José do Rio Preto, o que me obrigava a viajar 76 km todos os dias. Ufa, só de lembrar eu fico cansado! Naquela época, vivia momentos conturbados, sobrecarregados pelos estudos que exigiam a faculdade, o piano e o trabalho na secretaria de escola pública, além de todas as questões que envolvem a adolescência e a passagem para a vida adulta…

Em janeiro do mesmo ano, a televisão anunciava uma minissérie que contaria a história de uma pianista que lutou contra os preconceitos de sua época e conseguiu viver da sua música. O nome dela: Chiquinha Gonzaga. Sinceramente, não tinha ouvido falar dela na início da minha jornada musical, embora já conhecesse o Ó Abre Alas, a famosa marchinha carnavalesca. Sua estreia foi em 12 de janeiro, dias depois eu completaria 20 anos. Hoje reconheço que foi um presente, sem dúvida nenhuma. Eu não perdia um só capitulo, assistia quando chegava da faculdade, e quando o cansaço era maior que eu, programava o vídeo cassete pra gravar. Na época a minissérie passava terça, quarta e quinta-feira, durou cerca de 3 meses, terminando em março do mesmo ano. Posteriormente fiquei sabendo que a minissérie foi produzida em comemoração aos 100 anos da marchinha Ó Abre Alas.

2) O site ChiquinhaGonzaga.com

Na mesma época eu já havia criado um site pessoal, onde publicava temas do meu interesse. Após algum tempo Chiquinha Gonzaga virou uma seção dentro dele. Para minha surpresa e muito de repente, recebo um e-mail, alguém que viu o site e começou a fazer algumas perguntas sobre as imagens que eu havia publicado na seção Chiquinha Gonzaga. Para minha surpresa, era Edinha Diniz, a biógrafa de Chiquinha, cuja biografia tinha sido referência para a minissérie. Neste momento eu percebi a relevância do site em relação à Chiquinha, além da atenção recebida da biógrafa. Daí em diante o site foi crescendo e eu fui conhecendo outros admiradores, fãs e conhecedores de “Chiquinha Gonzaga”.

Com objetivo de informar e manter viva a memória de Chiquinha, o site ganhou várias atualizações, tendo ótima visibilidade pelo seu conteúdo tanto nacional como internacionalmente. Porém, tudo isso se deu graças à ajuda inestimável de Edinha Diniz, hoje uma amiga muito querida. Tenho que agradecer a todos que contribuíram e contribuem, afinal, ninguém faz nada sozinho. Esses agradecimentos estão formalizados no site http://chiquinhagonzaga.com/wp/creditos/

Hoje o site tem cerca de 20 mil acessos por mês

Nos últimos três anos, 136 países acessaram o site, ou seja, cerca de 70% do mundo!

E milhares de cliques nas partituras, em PDF, do Acervo Digital

3) Influência de Chiquinha Gonzaga na minha vida

O ano de 1999 foi muito importante pra mim, pois tive que tomar algumas decisões que mudariam minha vida completamente, e, conhecer a história de Chiquinha Gonzaga, em conjunto com outras forças me inspiraram a tomar as melhores decisões naquele momento.

Em março do ano seguinte, em 2000, em pleno carnaval eu deixava a minha cidade natal pra viver na capital do Brasil. Saímos dia 06, era madrugada, eu vi o sol nascer para um novo tempo, como se, abrindo alas para uma nova vida, e foi exatamente isso que aconteceu.

Fui muito bem recebido em Brasília, vivo aqui desde então e sou muito grato à todos que me acolheram e, de alguma maneira, ainda me acolhem.

Chiquinha Gonzaga se tornou um projeto de vida, logo a seção do site se tornou um site independente. O conteúdo foi crescendo e minha ligação com a biógrafa e outros fãs da compositora aumentando. Chiquinha “me apresentou” grandes personalidades da música, teatro, televisão, pesquisa e academia, aos quais consegui entrevistas exclusivas para o site e ainda estabelecer laços afetivos.

4) Apresentando Chiquinha Gonzaga

Em Brasília pude realizar alguns recitais didáticos contando a vida e apresentando a obra de Chiquinha Gonzaga, apesar do que se tinha disponível, era quase insignificante diante da totalidade listada por Edinha em sua biografia. Editado e disponível apenas um álbum (Irmão Vitale) com 12 músicas de Chiquinha. A partir desse momento comecei a  colecionar partituras de outros músicos e pesquisadores, tentando divulgar sua obra pelo site ChiquinhaGonzaga.com

Em 2009, minha querida e saudosa professora Neusa França (1920-2016) organizou um recital na Embaixada de Portugal em homenagem a Chiquinha Gonzaga, foi um momento muito marcante.

5) A obra de Chiquinha Gonzaga

A biógrafa, Edinha Diniz, na biografia “Chiquinha Gonzaga: uma história de vida, lançada em 1984”, se utilizou de documentação inédita, revelando a incrível história de Chiquinha Gonzaga, e também uma listagem preliminar de sua obra. Mas até 1999 sua obra tivera poucas gravações, além dos discos gravados pelo Grupo Chiquinha Gonzaga, em LPs 78 rpm. Antonio Adolfo, Leci Brandão e Clara Sverner foram pioneiros a dedicar álbuns fonográficos (LPs) completos para compositora. Porém, com a minissérie (1999), outros álbuns (CDs) apareceram. Ainda assim, o número de músicas gravadas não representavam 10% da obra listada em sua biografia.

Nos anos seguintes, a indisponibilidade da obra de Chiquinha Gonzaga continuava a me intrigar.  Comecei a colecionar dezenas de partituras que somadas a outras dezenas de outros amigos músicos, por exemplo o Douglas Passoni e Alexandre Dias, poderiam compor um acervo único, ideia que já tinha sido concretizada em relação ao compositor Ernesto Nazareth, toda sua obra foi digitalizada, revisada e disponibilizada em um site, gratuitamente. Por sorte, e principalmente por “Chiquinha”, eu conhecia um dos participantes do projeto de Nazareth, o pesquisador e pianista Alexandre Dias, que também morava em Brasília (ainda mora). Conheci Alexandre por intermédio de uma amiga em comum, a pianista Maria Teresa Madeira, que gravou em 1999 CDs com músicas da nossa compositora e anteriormente Ernesto Nazareth. Entre 2009-2010, Alexandre, Douglas e eu, intensificamos a ideia de recuperarmos a obra de Chiquinha. Graças ao incentivo da Lei Rouanet e Natura Musical, parceria com o Instituto Moreira Salles, a biógrafa Edinha Diniz e a produtora Integrar conseguimos recurso para o projeto: Acervo Digital Chiquinha Gonzaga.

Foram meses de muito trabalho, noite e dia, e uma equipe de amigos profissionais incríveis. O lançamento foi em outubro de 2011. Hoje o Acervo Digital Chiquinha Gonzaga, tem mais de 300 partituras e seis peças teatrais disponíveis, gratuitamente, no site ChiquinhaGonzaga.com. Com repercussão nacional, acabamos por “estrearmos” no Jornal Nacional, Band News, TV Brasil e dezenas de reportagens na web. Sucesso da toda equipe, sinceramente, talvez tenha sido o ano mais importante da minha vida em relação à Chiquinha Gonzaga. Foi um ano de sonhos realizados! Saiba mais sobre o projeto em http://www.chiquinhagonzaga.com/acervo/

O trabalho com a obra de Chiquinha Gonzaga ainda não está finalizado, há muitas partituras esperando revisão e publicação no site, principalmente em relação às peças teatrais que Chiquinha musicou, são dezenas…

6) Revisitando a Minissérie Chiquinha Gonzaga

Depois de muitos anos vendo e revendo a minissérie, em 2015, por se tratar de uma produção muito longa resolvi criar uma edição especial. Foram meses de trabalho para conseguir transformar mais de 30 horas em menos de 3h. Encontra-se disponível, em 4 partes, no site ChiquinhaGonzaga.com:  http://chiquinhagonzaga.com/wp/edicao-especial-da-minisserie-chiquinha-gonzaga/

7) Comemoração

De repente se passaram 20 anos… duas décadas….., sendo metade de minha existência dedicadas à memória e a obra de Chiquinha Gonzaga. Ainda sinto falta do reconhecimento de sua obra, gostaria que fosse mais presente na formação e no repertório dos músicos brasileiros. E hoje, posso ampliar este sentimento a outros compositores nacionais, infelizmente, esquecidos.

Aproveito para reverenciar o trabalho do meu amigo Alexandre Dias, diretor do Instituto Piano Brasileiro que, assim como fez com Nazareth e Chiquinha, continua trabalhando para manter viva e disponível a produção pianística nacional.

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