Chiquinha Gonzaga: o desaparecimento de uma figura de relevo da música brasileira, em 1935

O periódico ULTIMA HORA, RJ, de 1 de março de 1935, traz homenagem a Chiquinha Gonzaga.

Chiquinha Gonzaga o desaparecimento de uma figura de relevo da música brasileira

Traços da vida da ilustre compositora.

Maestrina Francisca Gonzaga

Com o falecimento da maestrina D. Francisca Gonzaga “Chiquinha Gonzaga”, como era conhecida, e como está citada na “A Conquista” de Coelho Netto, – desaparece uma figura de incomparável projeção na história da música e do teatro nacionais como na vida nacional dos últimos 50 anos, e uma senhora da melhor origem na família brasileira.

Descendente de Thomaz Antônio Gonzaga, o poeta da independência, tendo na sua ascendência ascendência diplomatas ilustres, Chiquinha Gonzaga teve na sua primeira mocidade, e numa época em que os preconceitos eram rigorosos, a independência e a coragem de espírito necessários a poder cultivar e exercer, profissionalmente, a carreira musical.

Começando pelas composições de valsas, que, executadas em público, principiaram a fazer o seu nome, dedicou-se em seguida a autoria de cançonetas que igualmente lhe granjearam a popularidade.

Tomou parte saliente, ao lado de Coelho Neto, Bilac, Luiz Murat e Paula Ney na campanha abolicionista chefiada por Patrocínio e desde então se interessou e devotou a causas nacionais, chegando a uma evidência, dadas oportunidades da nossa vida política, que resultou contrariedades que mais e mais contribuíram para a popularidade do seu nome.

Assim, os dias agitados de 1893, Chiquinha Gonzaga, pela autoria da cançoneta “Aperte o botão” teve ordem de prisão emanada do governo que enxergou na sua letra alusão irreverente a mais alta autoridade oficial.

Chiquinha Gonzaga viveu nesse momento a glória urbana de uma panfletaria, o que dada a sua mocidade e a sua situação privilegiada de artista e de mulher correspondeu a maior consagração.

Mas, essa grande inspirada cultura da música genuinamente brasileira e que compôs incontáveis produções de caráter popular foi também autora de composições da maior responsabilidade artística, e quando da visita da esquadra francesa ao Brasil, nos últimos anos da monarquia, compôs uma marcha pela autoria da qual mereceu do governo da França uma distinção honorífica.

E não só no Brasil o seu nome atingiu a consagração, mas teve também suas partituras e números avulsos executados em Lisboa, como até regeu, na capital portuguesa, orquestras de teatro, e ali recebeu as manifestações mais entusiásticas imerecidas. Recentemente, quando se comemoram os 50 anos da representação da primeira peça de cuja partitura ela foi autora, a imprensa de todo o país enumerou as suas primeiras produções representadas nos palcos do Brasil e Portugal, referindo-se especialmente à música da peça “A corte na roça”, representada no antigo Theatro Príncipe Imperial, a 17 de janeiro de 1885, a peça da autoria de Palhares Ribeiro.

As partituras completas de Chiquinha Gonzaga cantadas em teatros do Brasil, foram as das operetas “Juriti” e “Maria, de Viriato Correa, e “Jandyra”, de Ruben Gil e Alfredo Breda, as duas ultimas apresentadas no Theatro Recreio, do Rio, e depois representado noutras capitais do país. Chiquinha Gonzaga deixou, inéditas, algumas derradeiras composições, entre as quais a partitura competa da fantasia “Adão e Eva”, original de Renato Vianna.

D. Francisca Gonzaga, que morre aos 87 anos de idade, será sepultada no cemitério de Catumby, – onde está enterrado o autor do Hino Nacional – às 17 horas, saindo o cortejo fúnebre da sede da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, a rua Pedro I.

Nota: algumas informações foram corrigidas no texto transcrito acima.

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