Exclusiva com a pianista Olinda Allessandrini

“…de técnica apurada e dotada de fina imaginação e bom gosto, Olinda Allessandrini é uma das mais atraentes pianistas do repertório nacional”. (citação no livro Arte do Piano, de Sylvio Lago, Algol Editora, 2007)

As atividades da pianista Olinda Allessandrini incluem apresentações ao vivo, em recitais, música de câmara ou como solista com orquestras, além de gravações, programas de rádio, atividades pedagógicas, colaboração em livros editados e jornais.

Olinda Allessandrini, pianista

Em 2010 foi premiada com a distinção “Líderes e Vencedores”, como destaque na área cultural. Participou recentemente de festivais internacionais de piano, como o “Festival de Piano de Heidelberg” (Alemanha, 2014), o “Neckar Music Festival” (Alemanha, 2014), o Festival Internacional do Piano de Savona (Itália, 2013), e o Festival Pianotune (Bélgica, 2012).

Possui CDs inteiramente dedicados a obras de Villa-Lobos, Radamés Gnattali, Chiquinha Gonzaga e Araújo Vianna, além dos CDs “Panorama Brasileiro”, “Valsas”, “pamPiano”, “Ébano e Marfim”, “Um piano na Esquina”, com obras de diversos compositores. Participou também de vários CDs como pianista convidada.

Apresentou-se nos mais importantes centros culturais brasileiros, e também realizou recitais na Itália, Bélgica, Noruega, Chile, Bolívia e Uruguai, além de tournées pelos Estados Unidos e Alemanha. Colaborou por vários anos com a programação do Teatro do Sesi em Porto Alegre, assumindo a coordenação geral do Carnaval dos Animais em 2000, Noite Barroca em 2001, e Carmina Burana em 2006 e de suas reedições em abril de 2008 e em setembro de 2009.

Desde 2012 apresenta o recital performático “Oh Abre Alas”, vida e obra de Chiquinha Gonzaga, em parceria com o Studio Clio, em Porto Alegre. Além de escrever artigos sobre música para jornais, participou escrevendo um capítulo para os seguintes livros: “Cirandas de Villa-Lobos, reinvenções”, juntamente com Clara Pechansky e Marô Barbieri, 2012; Networking Cultures, coordenado por Maria Luiza Cestari, Eva Maagero e Elise SeipTonnessen, edição Portal Books, Noruega, 2006; A Face Escondida da Criação, coordenado por Clara Pechansky, edição conjunta Editora Movimento e UFPel, 2005; Pampa e Cultura – de Fierro a Netto, coordenado por Lígia Chiappini, Maria Helena Martins e Sandra Pesavento, edição UFRGS, 2004. Atuou como colaboradora especial no livro O Piano na Música Brasileira, coordenado por Zuleika Rosa Guedes, editora Movimento, 1992.

Contato: www.olindaallessandrini.com.br

1) Como você vê os compositores brasileiros na academia? Principalmente os menos conhecidos?

Sempre tive um grande interesse em música brasileira, e comecei bem jovem ainda a estudar o repertório mais conhecido na época. Nele estavam incluídos Villa-Lobos, Francisco Mignone, Lorenzo Fernandez, Alberto Nepomuceno, Brasílio Itiberê da Cunha, entre outros. Mas nada de Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga, Zequinha de Abreu.
Estas eram músicas que minha mãe tocava, e algumas partituras circulavam pela nossa casa. À medida que fui desenvolvendo minhas atividades como pianista, passei a pesquisar muito sobre a produção musical brasileira, incluindo música de câmara, que incorporei ao meu repertório. Uma grande parte desta pesquisa devo ao convite da professora Zuleika Rosa Guedes, que me convidou a participar do livro “O piano na música brasileira” (Editora Movimento, 1992). Com este trabalho, tive contato com uma grande parte da produção musical brasileira, escrita até 1950.
Penso que nós, músicos brasileiros, devemos valorizar e divulgar nossa música. Resolvi ampliar meu repertório, organizar recitais com títulos criativos e gravar CDs tendo este objetivo sempre presente. Inclusive, no decorrer do tempo, fiz algumas encomendas a compositores gaúchos, tendo tido a honra de apresentar diversas primeiras audições, em piano solo ou com orquestras.

 2) Na sua história como pianista, como e quando te contato com alguma música de Chiquinha Gonzaga?

Ernesto Nazareth passou a fazer parte do meu repertório, mas Chiquinha entrou na minha vida muito mais tarde. Meu primeiro contato como intérprete foi através de uma seleção de obras transcritas para o Trio “Elas por Elas”, do qual fui fundadora. Nosso repertório era constituído somente por compositoras mulheres, e naturalmente o arranjo para trio foi escrito por uma compositora gaúcha. O público deliciou-se  com as obras escolhidas da Chiquinha.
Mais tarde fui convidada para dar uma palestra no StudioClio, em Porto Alegre, em que falei sobre sua vida, ilustrando com algumas de suas composições para piano solo. A partir deste momento, surgiu a idéia de criar um recital performático, em que eu falasse sobre sua trajetória – desta vez na primeira pessoa ! E deu certo !
No roteiro, fui desenvolvendo sua estória de vida em ordem cronológica, escolhendo e agrupando músicas de acordo com o assunto enfocado. Usando roupa de época, ou interpretando uma Chiquinha século XXI, procurando a maior fidelidade aos momentos abordados. E para isto contei com a ajuda de um livro admirável, que retrata o ambiente político e social da época, os avanços na liberação feminina, os progressos tecnológicos e sua influência na vida das pessoas e das cidades, particularmente do Rio de Janeiro. Este livro é “Chiquinha Gonzaga”, de Edinha Diniz, que realizou uma pesquisa profunda e criteriosa, e que agora também está presente no site ChiquinhaGonzaga.com/acervo com comentários preciosos sobre o repertório digitalizado. E foi este site que me permitiu garimpar músicas para todos estes momentos do recital. Uma maravilha o site. E foi incrível, algo inimaginável anos atrás: com meu iPad na estante do piano, eu ia abrindo partituras, lendo com calma, para escolher as que mais me interessassem, podendo imprimi-las e estudá-las com rapidez.
Para este recital performático, conto com a colaboração de Tiago Halewicz, curador do StudioClio, que colaborou na seleção das imagens, também no roteiro, e atua como João Batista, o Joãozinho, em dois momentos de vídeo que permitem um tempo para que eu troque os figurinos, criados por Mônica Lapa. O Tiago – ou o Joãozinho – está  sempre presente e atento ao recital, com valiosas sugestões, de modo que os textos vão adquirindo mais fluência, e os comentários em paralelo são sempre atualizados…
Gostaria de fazer aqui um elogio entusiasmado aos idealizadores do site, e aos que nele trabalharam para que este repertório pudesse ser divulgado pelo mundo inteiro. Parabéns a vocês! Um caloroso aplauso!

3) Fale-me sobre o projeto do CD de Chiquinha. Onde conseguiu as partituras e qual foi o critério para o repertório? Houve alguma dificuldade? Como vê o mercado fonográfico hoje e o que a motivou a gravar uma compositora do século XIX.

Graças ao site ampliei o repertório do recital para gravar um CD de 65 minutos, com uma amostra bastante significativa da produção de Chiquinha Gonzaga. A discografia de música brasileira ainda tem muito espaço que pode ser preenchido por autores e obras esquecidas, que tenham um sabor de brasilidade sem perder a qualidade de composição.

4) Como o público recebeu seu trabalho com Chiquinha?

No caso deste CD Chiquinha Gonzaga, percebi o interesse do meu público em todos os recitais que realizei, e tive uma resposta muito significativa no lançamento. O CD foi gravado em Porto Alegre, no Teatro do CIEE, em um Steinway de sonoridade fenomenal!
A gravação e masterização são de Marcos Abreu, captando as minhas intenções musicais, ultrapassando o microfone… Capa e material gráfico foram criados por Flávio Wild, um grande designer, usando uma foto do Sergio Vergara, que conseguiu um efeito interessante  nas sombras e reflexos do piano.
Já apresentei este trabalho em Porto Alegre e estou ampliando para o interior do Rio Grande do Sul, e o resultado tem sido muito positivo. O fato de falar na primeira pessoa cria uma cumplicidade com o público, e as pessoas aproveitam muito mais os comentários, e lembram melhor as informações apresentadas de modo muito pessoal.

5) Houve alguma aproximação com a história de vida de Chiquinha ou somente com sua obra? Há alguma identificação da compositora com a intérprete?

E eu me divirto muito, e me emociono também… especialmente no final, quando Chiquinha faz um balanço de vida, relembrando suas decepções e vitórias, seus filhos e seus amigos, a conquista do respeito e admiração por sua coragem e persistência, sua música sem pretensões e suas conquistas como mulher: pianista, professora, compositora, maestrina, republicana, abolicionista, criadora de inesquecíveis peças teatrais e operetas, batalhadora pelos direitos autorais, e dona de um otimismo incorrigível.
Encerrando este recital, muito serenamente Chiquinha Gonzaga despede-se da vida, eu toco a primeira parte da sua valsa Plangente, e o público realmente fica emocionado.
E para encerrar com alegria, cantamos todos “Ó abre alas”. Afinal, ela merece!

Uma opinião sobre “Exclusiva com a pianista Olinda Allessandrini

  • março 13, 2015 em 15:24
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    Olinda!
    Quanto encantamento, dedicação e criatividade.
    ” E tua alma de artista transparece a cada momento em que estás ao piano…”
    Ficamos sempre muito emocionados.
    Parabéns! “Ó abre alas”… para a Olinda!!!!
    Carinhoso abraço
    Marli, Roberto e Mariaclara

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