Criação da SBAT – Sociedade Brasileira de Autores Teatrais

A ideia de uma entidade onde o autor defendesse seus direitos ocorreu a Chiquinha Gonzaga ainda no começo do século. Deixemos que a história seja relatada por Djalma Bittencourt:…”A SBAT não surgiu de um ‘enxerto’. Nasceu de uma semente cultivada muitos anos antes. Talvez 15 anos antes de sua fundação. Aí por volta de 1903 Chiquinha Gonzaga viajava pela Europa e num de seus passeios por uma rua de Berlim parou numa loja de músicas, entrou, folheou exemplares e encontrou nada menos do que isso: algumas composições musicais de sua autoria, autênticos sucessos no Brasil, editadas magnificamente em Berlim! Quem autorizou a publicação dessas obras? – perguntou a maestrina de ‘Forrobodó’? Examina daqui, examina dali e chegam à conclusão de que Fred Figner tinha autorizado. Mas com que direito? É o que se discutiria no Brasil logo que Chiquinha Gonzaga voltasse. Por essa época, João Gonzaga, que tomou parte ativa nesses acontecimentos da Alemanha, acompanhando sua mãe, era empregado numa casa de músicas, concorrente da Casa Edison, de Fred Figner – a Casa Buschmann e Guimarães. E coube ao Gonzaga a incumbência de tratar do assunto junto do Figner. Mas Figner tinha muita intimidade com D. Chiquinha. Chiquinha Gonzaga ensinara piano a seis moças gratuitamente e dentre elas havia uma que era namorada de Figner e com ele se casara com o apoio de D. Chiquinha. E o Figner limitou-se a dizer a Chiquinha: ‘Aparece lá em casa para almoçar’… Chiquinha não estava com fome. Ao contrário, vivia bem alimentada. Mas apesar disso, com aquele coração imenso que possuía e com aquela alma que cativava pela sua elevação, não se ofendeu. Mas o Gonzaga, ou melhor, o Joãozinho, que era ‘queimado’ por natureza e via naquilo um abuso ao direito de autor (já estava em pleno vigor a lei número 496, de 1898, que regulava a matéria), resolveu dar uma lição ao Figner e exigiu contas. Figner fez um apelo ao patrão de Gonzaga, o velho Guimarães, pensando que pudesse haver domínio patronal sobre o rebelde, mas enganou-se redondamente. Joãozinho mandava na casa Buschmann e mandava muito mais ainda no seu ‘Guimarães’, que era o dono da Casa. Resultado: alguns dias depois o Figner entregava ao Gonzaga nada menos de 15 contos de réis pelas músicas editadas sem autorização e o ‘seu’ Guimarães recebia outros 15 contos das mãos de Figner, graças à intervenção do Gonzaga em defesa do repertório de propriedade de Buschmann e Guimarães, usado por Figner sem necessária autorização.” (1.BITTENCOURT, Djalma. “Bate papo com amadores”. In Revista de Teatro, SBAT, n.º 317, set-out 1960, Rio de Janeiro, p. 1.) – (fonte: Chiquinha Gonzaga uma história de Vida, por Edinha Diniz).

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