O periódico Diário da Noite, RJ, 16 de julho de 1930, anuncia em forma de “palestra” uma entrevista com Chiquinha Gonzaga aos 82 anos.
Chiquinha Gonzaga tem cinco operetas inéditas.
Uma palestra com nossa grande musicista
Quando o nosso público, — esse público que acusam, talvez, Indevidamente, de desinteressar-se pelas coisas do posso teatro – conhece os seus artistas através dos seus apelidos de intimidade, é que esses artistas, pelo sua atuação brilhante, pelo valor incontestável da sua obra merece a sua admiração.
D. Francisca Gonzaga é para esse publico – Chiquinha Gonzaga, somente. Mas, neste “Chiquinha Gonzaga”, há toda a grande veneração desse público pela criadora das nossas mais lindas páginas musicais.
Ouvimo-la ontem, na sede da S.B.A.T. onde ela parece querer viver toda a sua existência. Chiquinha Gonzaga vem de restabelecer-se de grave enfermidade.
_ Resisti, como vê, disse-nos nossa grande maestrina. Resisti heroicamente. Mas, tratemos de nós, ao nosso teatro. Que mágoa eu tive quando vl o João Caetano (teatro) inaugurado por uma companhia estrangeira…
_ Foi contra, então, ao critério da Diretoria do Patrimônio?
_ Sim. É tarde e inútil a confissão, mas, que importa? Sou brasileira e tenho orgulho de o ser. Porque nós podemos ter uma companhia de operetas bem organizada desde que um auxilio oficial assim determine.
Depois a maestrina da “Jandyra” nos fala das suas produções inéditas.
_ Quantas?
_ Cinco, responde a maestrina Francisca Gonzaga. São elas: “As três graças”, “Redes do mar” e “Romeu e Julieta”, operetas: “Desfilada dos mortos”, peça sacra e “De volta a pátria”, peça de costumes.
_Como vê, conclui a musicista patrícia, tenho trabalhado e muito pelo nosso teatro, pois com essas peças faço um total de 77 partituras, tendo musicado várias produções de nomes como Arthur Azevedo, Furtado Coelho, Luiz de Castro, Oscar Pederneiras, Baptista Velho e Paulo Araujo.
Depois, Francisca Gonzaga recorda sua primeira noite de êxito.
_ Foi em 17 de janeiro de 1885 no Theatro Príncipe Imperial, hoje São Jorge. A peça era “Corte na Roça”e foi um dos maiores sucesso do seu tempo.
Fazia-se tarde já. Despedimo-nos deixando ainda a nossa musicista presa ao tempo em que o povo parecia – disse-nos Chiquinha Gonzaga – querer bem aos seus artistas e a sua música…
Fonte: Hemeroteca Digital / Biblioteca Nacional Digital