Marisa Monte iniciou seu discurso agradecendo à Ministra Cármen Lúcia e expressando a honra de estar presente como cidadã brasileira e artista, cantora e compositora, com 35 anos de trajetória na música1. Ela destacou que sua presença ali era um momento de celebração e reflexão.
O vídeo apresenta um discurso emocionante de Marisa Monte no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), onde ela reflete sobre sua trajetória de 35 anos na música como mulher, artista, cantora e compositora. Marisa Monte compartilha sua experiência pessoal de luta por espaço e amplificação da sua voz em um meio tão desigual quanto a própria sociedade. Ela destaca as barreiras que teve que romper e os questionamentos sobre sua capacidade de conduzir sua carreira, compor, produzir e liderar projetos em um mercado historicamente dominado por homens. Para garantir sua autonomia artística e patrimonial, ela fez a escolha estratégica de criar um selo independente para produzir sua própria música e manter o controle de sua obra.
Em sua fala, Marisa Monte abordou a história da mulher nas artes, tema sugerido pela Ministra Cármen Lúcia. Ela contrastou a vida de sua bisavó Sofia, que cantava belissimamente, mas apenas em saraus e salões para a família, sem registro público de sua existência musical, com a trajetória revolucionária da maestrina e pianista Chiquinha Gonzaga. Em 1899, apenas quatro anos antes da dedicatória ao álbum de sua bisavó, Chiquinha Gonzaga compôs “Ó Abre Alas“, fazendo história na música brasileira ao desafiar os padrões patriarcais de sua época e sendo uma mulher “à frente do seu tempo”. O discurso prossegue mencionando outras figuras femininas importantes na música, como Carmen Miranda, que nos anos 30 já representava uma transformação gigante no comportamento feminino, mesmo com um repertório 100% composto por homens. Apenas nas décadas seguintes, com a chegada da pílula anticoncepcional nos anos 60 e o avanço do movimento feminista, mulheres como Rita Lee puderam “colocar as asas para fora” e se destacar como cantoras, compositoras e instrumentistas, desafiando normas de gênero.
Marisa Monte observa que, a partir da década de 70, as mulheres “deixaram de ser apenas vozes e conquistaram a palavra, a narrativa própria”, com a multiplicação de compositoras nas décadas seguintes. Embora hoje grande parte das cantoras brasileiras produzam seu próprio repertório, ela ressalta que, segundo o último relatório do ECAD, menos de 10% do total repassado a beneficiários em 2024 foi para mulheres, indicando que a indústria musical ainda tem muito a avançar na participação feminina. A própria Marisa evoluiu de intérprete para compositora, produtora e dona de sua própria gravadora e editora. Ela compartilha a honra de ter sido a terceira mulher a receber o título de Doutor Honoris Causa na USP em 90 anos, e a primeira na área de cultura. Em seu discurso, ela enfatiza que, apesar dos avanços, ainda há muito a ser conquistado, pois as mulheres, embora maioria na população, são minoria em representatividade e oportunidades em diversas áreas como o judiciário, CEOs de empresas e no Congresso Nacional. Marisa Monte conclui reforçando que a questão das mulheres não é exclusivamente feminina, mas uma questão de progresso humano, que deve incluir os homens na busca por um “masculino mais sensível, menos violento e mais empático”, e agradece a todas as mulheres que abriram o caminho, reafirmando o compromisso de continuar abrindo espaços para um mundo mais inclusivo e solidário.