FORROBODÓ, Burleta de costumes cariocas em 4 atos (completa)

Considerada uma jóia do teatro de diversão e referência obrigatória na história do musical brasileiro, a burleta Forrobodó constitui um dos maiores sucessos do teatro popular carioca de todos os tempos. Tendo como tema um baile no bairro da Cidade Nova, Forrobodó colocava em cena pela primeira vez, e a um só tempo, uma galeria de tipos populares: o mulato pernóstico, a mulata insolente, a prostituta francesa, o malandro ladrão de galinhas, o guarda-noturno, o mulato capoeira valentão, o português. Tudo em contraste com um Rio de Janeiro europeizado.

Mas a novidade de Forrobodó – para além dos tipos e sua linguagem, que consagraria o gênero calão nos palcos populares – estava na música, que atravessou o tempo fresca, brejeira, cheia de malícia. Verdadeira cronista musical, Chiquinha Gonzaga traduziu em gíria sonora o Rio de Janeiro de sua época e encontrou nesse libreto um texto sob medida para seu espírito livre de preconceitos. A estreia ocorreu no Teatro São José, em 1912, e a mais recente montagem em 2013, no Teatro Sesc Ginástico, no Rio de Janeiro.

Baixe o libreto de Forrobodó aqui

 

letra de Luiz Peixoto e Carlos Bettencourt

Nº 1 -CORO E SABASTIÃO
Coro geral
Que será? Que haverá? Sarrabulho?
Por que está todo o povo alarmado?
Que barulho! Que barulho!
Não se pode dormir sossegado!
Coro de mulheres
Que foi isso? Que foi isso?
Por que tanto reboliço?
Sebastião
De polícia não há furo.
De apitar cansado estou!
Sebastião e coro
O ladrão saltou o muro,
bateu asas e avuou.

Nº 2 – GUARDA E CORO
Guarda
Sou professor de clarinete e de sanfona, e de sanfona
Durante o dia, pra ganhar, para os pirões.
Durante a noite, sou o guarda desta zona, desta zona
Tomando conta dos quintais e dos porões.
Coro
Sou professor de clarinete e de sanfona, etc.
Guarda
Vivo a rondar, vivo a apitar
Nas horas mortas, nas horas mortas
A apalpo as portas, por não ter
Mais nada que apalpar
Coro
Vive a rondar, etc.

Nº 3 – ZEFERINA, SEBASTIÃO, GUARDA E CORO
Zeferina
Sou mulata brasileira
Sou dengosa feiticeira
A flor do maracujá
A flor do maracujá
Minha mãe foi trepadeira
Arteira e eu arteira
Vivo igualmente a trepar
Vivo igualmente a trepar
Pança com pança
Bate com jeito
Entra na dança
Quebra direito
Quebra direito
Este maxixe
Quase que mata
Não se enrabiche
Pela mulata
Pela mulata (2x)

Nº 3 Bis – MÚSICA INTERNA
Nº 4 – GUARDA, SEBASTIÃO E CORO
Guarda
Forrobodó de massada
Gostoso como ele só
É tão bom como a cocada
É melhor que pão de ló.
Coro
Forrobodó de massada
Gostoso como ele só
Guarda
Xi! A zona está estragada
Meu Deus que forrobodó
Coro
Tem enguiço,
Tem feiguiço,
Na garganta faz um nó.
Sebastião
Então seu Guarda
Que é isso?
Coro
Meu Deus que forrobodó!
Sebastião
Mas então pelo que vejo
Não apanho um frango só?
Guarda
Eu vejo que já não vejo
Todos
Meu Deus que forrobodó!

Nº 4 Bis – QUADRILHA
Nº 5 – MAESTRO E CORO
Maestro
Entre firme seu Manduca,
Agora avança os metá!
Sustenta a nota seu Juca
Coro
Fum! Fum fum fum fum fum Gaga!
Maestro
Enquanto o bronze demora
Tapeando o bombardão
A clarineta vai embora
Vórta despois com o pistão.
Coro
Pom! Pom!

Nº 5 Bis – POLCA
Nº 6 – BICO DOCE E ZEFERINA
Bico Doce
Não sei por que te amei Sá Zeferina
Por que foi que te encontrei na minha sina!
Esta grande sensação que sinto agora
É loucura da paixão que me devora
Tua cor amorenada até parece
Com o moreno da cocada que endoidece
Eu me sinto desgraçado, podes crê
Porque vivo apaixonado por você.

Nº 7 – DOBRADO CARNAVALESCO
Escandanhas
Chega pertinho
Puxa a fieira
Vamos ao vinho
Sem bebedeira
Coro (bis)
Forma direito
Entra de mão
Engata a jeito
Segue o cordão
Coro (bis)
A feijoada
Leva toucinho
Tem picadinho
Bacalhoada
Coro (bis)
Toques de pinho
Carne ensopada
Goles de vinho
Peixe e rabada
Coro (bis)

Nº 8 – DUETO MAESTRO E RITA
Maestro
Minha Rita que tortura,
Eu não posso mais reger,
Pois a batuta está dura
E não quer mais se mexer
Rita
Eu também tou embrulhada,
Minha ideia parafusa,
Pois não pinga mais nada
A chupeta do Cazuza
Maestro – O mulatinha
Rita – Meu Maestrinho
Maestro – Tão bonitinha
Rita – Tão pequeninho
Maestro – Ai! Que feitiço
Rita – Ai! Que derriço
Maestro – Ai! Que feitiço
Juntos – Ai! Que derriço
(bis Coro)

Nº 9 – DUETO ALFREDO E FINA
Alfredo
Aqui me tens meu amorzinho
Eis-me a teu lado minha flor
Eis-me a teu lado minha flor.
Rita
Que falta faz o teu carinho
Não sei viver sem teu amor.
Alfredo – Gostas de mim!
Rita – Eu gosto sim, se não gostasse não dizia.
Alfredo – Ó que alegria! Nunca pensei ser tanto assim
Juntos – Eu gosto sim / tanto assim.
Alfredo
O teu amor é como orvalho
Que dá vida e dá calor
Que dá vida e dá calor
Rita
Pobre de mim que no trabalho
Vivo a pensar no teu amor
Alfredo – Gostas de mim!
etc.

Nº 10 – LULU
Não vejo cara em vocês
Não me destorce quem quer
Sou chapa quarenta e seis
Bonde Lapa-Carceller
Já fui cabo eleitoral
Do partido não sei d’onde
Já fui bandeira de bonde
E graxeiro da Central.
Três meses fiscal do lixo
Nos cafundós suburbanos
Cinco meses banquei bicho
Fui vagabundo seis anos
Trinta e dois anos e um mês
Natural de Paquequer
Sou chapa quarenta e seis
Bonde Lapa-Carceller.

Nº 11 – GUARDA E MADAME
Guarda
Madama você me ensina
Um bocado de franciú?
Mme.
Moi ensina, moi ensina
Marquez moi um rendez-vous
Guarda
Lá nas Marrecas não vou
E se for é de relance.
Mme.
Aprés le forrobodô,
Maintenant je veux la danse.
Avec moi maxixe
Guarda – É só querer
Mme. – Comme ça mon cochon
Guarda – Colchão tá bom.
Mme. – Vouz aimez le cochon
qui c’est bon
Guarda – É melhor cobertor
meu amor, meu amor!

Nº 11 (bis)
Nº 12 – BARRADAS, LULU, SEBASTIÃO, BICO DOCE E CORO
1.
Barradas
Quem possa puxar fieira
Muito melhor do que eu
Procurem a terra inteira
Que o cuéra não nasceu
Lulu
Sou dotô nesta sabença
Quem quiser me competir
Peça um ano de licença
Pra poder arresistir.
Os quatro
Bate mulambo, bate coió
O corpo bambo dum lado só
Todos
Bate mulambo, bate coió
O corpo bambo dum lado só
Dum lado só
2.
Guarda
Eu não sou muito letrado
Mas faço sempre uma aposta:
Num desafio rasgado
Comigo ninguém encosta!
Escandanhas
Eu garanto, todo ancho
Que, na hora das comida
Todo inteiro me desmancho
Como banha derretida!
Os quatro
Bate mulambo, etc.

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